sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Planos sem Cores

Reluzente candura

Da algazarra dos planos arco-íris ao silêncio

Tão somente  

Silêncio dos planos desbotados pelo factual

Apenas

Silêncio dos planos palidecidos pelo desejo frustrado

Nada mais do que

Silêncio dos planos descoloridos pelo simples existir  


Quão singela e áspera concretude

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Confissão de Deus II

O que devo dizer?

Será que tenho algo a dizer?
Se tiver, para quem devo dizer?
Quem me ouve, pode me ouvir?
Quem não me ouve, pode não me ouvir?

Tem aqueles que sentem, em vista disso, me clamam!
Tem aqueles que não sentem, por esse motivo, me reduzem a fábulas!
Os que sentem, foram arrebatados pelo sentimento de pecado,
Num ato de insanidade, necessitam do sentimento de piedade,
Assim, no seio de sua inferioridade, projetam uma superioridade,
Agarram-se a mim como as larvas no suculento banquete em putrefação.
Os que não sentem, destronam-me negando a minha existência,
Mas, orgulhosos, vaidades insufladas, destinam-se a um árduo desígnio,
Enchem-me de adjetivos como se enchem um tambor sem fundo,
Embebidos em sua imbecilidade arrogam-se auto-suficientes,
E acorrentados a liberdade, sentem-se angustiados pelo seu próprio fim escolher.

Acredito não ter nada a dizer àqueles que me sentem ou não sentem,
Pois estão embriagados de inferioridade e de suficienciedade (causa a si próprio).
Então só me resta à mim se quero dizer algo!

O que desejo dizer?

Digo que quero o silêncio daqueles que clamam e fabulam.
Quero um mundo sem as minhas lembranças,
Um mundo com amnésia da minha presença ou ausência.

Por que a única coisa que quero é silêncio,
E para todo sempre me silenciar. 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Tintas e Palavras


Faço da caneta o pincel, do pincel a caneta
Faço do papel a tela, da tela o papel
Faço das palavras as tintas, das tintas as palavras

A tela no seu vazio nada exprime se não o nada
As tintas nas suas cores nada refletem se não seus tons
O pincel na sua rusticidade nada imprime se não sua uniformidade

No oceano de cores mergulho o pincel
A tela em branco aguarda ansiosa a espera do frescor das tintas
Tintas, pincel e tela se fundem para concederem sentido
Suavemente se encontram se desejando uns aos outros
Pois juntos testemunham e realizam a inspiração, a criação
Sintonizados expressam, refletem, imprimem o sopro do Descriador

A cada palavra que singelamente reflito
Na ponta da caneta se encontra alvoroçada, desejosa,
Para intensamente e delicadamente surfar no nada
Do papel que dispõe do seu vazio e que tudo possibilita
Imprimindo as palavras que a caneta quer (des) significar

Branco, já não é só branco
Cores, já não são só cores
O uniforme, já não é só uniforme

O pincel, as tintas e as telas oferecem forma, beleza e significado
Palavra por tinta ou tinta por palavra, pinto
Expresso as certezas e incertezas
O sublime e o feio
Dou vida aos olhos, aos cabelos, ao encanto,
À boca, à forma, à doçura,
À mulher que misteriosamente aflige e apazigua minha existência

Quantas tintas e palavras, pinceis e canetas, telas e papeis ainda serão necessários... Ieda! (*)
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(*) Este poema foi apresentado e classificado entre os 10 melhores - categoria adulto - do VI CIRANDA DE POESIAS DE LONDRINA DE 2009. Os poemas classificados e aprersentados são publicados com apoio da Universidade Estadual de Londrina.

A confissão de Deus *

O que sou?
Amante, mito
Água, sol
Árvore, pedra
Sou tudo?
O que se relaciona
Ama, detesta
Mata, revive
Come, bebe
Neste banquete de
Desordem, ordem
Guerra, paz
Morte, vida
Sou tudo
Sou nada
Porém tudo isso eu sou!
E além, o que sou?
Sou o que pensa
Sou o que planta
Sou o que colhe
Sou da terra, água, fogo, ar
Sou “Dúvida”!
E além o que sou? **
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(*) Este poema foi apresentado e classificado entre os 10 melhores - categoria adulto - do IV CIRANDA DE POESIAS DE LONDRINA DE 2007. Desde essa época aguardo sua puplicação em um livro próprio do evento.
(**) Acrescentei este verso depois de escrever a confissão de Deus II. Embora ele sugira a idéia de continuidade na reflexão, ambos os poemas são autônomos, uma vez que eclodiram em tempos distintos.